Delineamento de infecções em um hospital universitário por bactérias produtoras de metalobetalactamases: mapeando o inimigo!
DOI:
https://doi.org/10.30968/rbfhss.2023.144.0979Resumo
Objetivo: determinar a prevalência e a mortalidade relacionada a infecções causadas por metalobetalactamases (MBL) e descrever o perfil epidemiológico, clínico e microbiológico dessas infecções e a terapêutica utilizada, em um hospital universitário do Ceará-BR, no período de 2021 e 2022. Método: foi realizado um estudo transversal, retrospectivo. Foi feita a coleta sistemática de dados de prontuários de pacientes internados no hospital, que foram, posteriormente, armazenados em um banco de dados. Foram incluídos todos os pacientes internados em leitos de enfermaria ou de UTI, que tiveram o diagnóstico de infecção com perfil de resistência ampliada, após 48 horas de internação. Os dados foram avaliados de acordo com sua frequência absoluta (n), frequência relativa (%) e medidas de tendência central. Resultados: A prevalência de infecções por MBL, entre todas com resistência ampliada, foi de 47,9%. A média de idade dos pacientes foi de 61,8 anos e o gênero masculino foi o mais acometido (65,8%). A área de internação com maior número de casos foi a Clínica Médica (20,3%). Em 40,5% dos casos, os pacientes estavam em uso de ventilação mecânica. A hemocultura foi o exame microbiológico mais prevalente (38%) no diagnóstico das infecções. As neoplasias foram a principal causa das internações dos pacientes (34%). A bactéria mais isolada foi a Klebsiella pneumoniae (65,8%) e o gene de resistência prevalente foi o New Delhi Metalobetalactamase (NDM), estando presente em 77,2% dos casos. Os isolados se mostraram resistentes a quase todos os antimicrobianos (ATMs) testados. Os ATMs mais capazes de combater essas infecções in vitro foram a colistina, a gentamicina e a amicacina. A polimixina B foi o ATM mais utilizado, compondo, total ou parcialmente, o tratamento de 41,8% dos pacientes. A taxa de mortalidade foi de 43%. Com isso, relatamos, de forma inédita, a presença de bactérias produtoras de MBL no Ceará, com elevada prevalência e mortalidade. Conclusão: Nossos resultados apontam para o esgotamento das opções terapêuticas contra esses patógenos e para a urgência de buscar novos tratamentos.
Downloads
Referências
Yang Y, Yan YH, Schofield CJ, et al. Metallo-β-lactamase-mediated antimicrobial resistance and progress in inhibitor discovery. Trends Microbiol. 2023;31(7):735-748. DOI:10.1016/j.tim.2023.01.013
Batista YA, Coelho JLG, Almeida NS, et al. Consequências da resistência antimicrobiana no tratamento das infecções hos- pitalares. Braz J Dev. 2021;7(3):29952-2996.DOI:https://doi.org/10.34117/bjdv7n3-625.
Silva TO, Ortega LN. A resistência antimicrobiana e custos de cuidado de saúde: uma revisão sistemática. Colloq Vitae 2021;13(2):25-39.
World Health Organization. Ten threats to global health in 2019; 2019.Available in: https://www.who.int/emergencies/ ten-threats-to-global-health-in-2019. Accessed on:25th March 2023.
Mauri C, Maraolo AE, Di Bella S et al. The Revival of Aztreo- nam in Combination with Avibactam against Metallo-β-Lac- tamase-Producing Gram-Negatives: A Systematic Review of In Vitro Studies and Clinical Cases. Antibiotics (Basel). 2021;10(8):1012.DOI:10.3390/antibiotics10081012.
Oliveira PS. New Delhi Metalobetalactamase: uma revisão bibliográfica [Trabalho de Conclusão de Curso]. Curso de Ba- charelado em Farmácia, Centro de Educação e Saúde, Univer- sidade Federal de Campina Grande, Cuité- PB, 2015.
Reddy N, Shungube M, Arvidsson PI, et al. A 2018–2019 patent review of metallo beta-lactamase inhibitors. Expert Opin Ther Pat. 2020;30(7):541-555. DOI:10.1080/13543776.2020.1767070.
Walsh TR, Toleman MA, Poirel L, et al. Metallo-β-lacta- mases: the quiet before the storm? Clin Microbiol Rev. 2005;18(2):306-325. DOI:10.1128/CMR.18.2.306-325.2005.
Kumarasamy KK, Toleman MA, Walsh TR, et al. Emergence of a new antibiotic resistance mechanism in India, Pakistan, and the UK: a molecular, biological, and epidemiological study.Lancet Infect Dis. 2010;10(9):597-602. DOI:https://doi. org/10.1016/S1473-3099(10)70143-2
Bertoncheli CM, Hörner R. Uma revisão sobre metalo-β-lac- tamases.Rev Bras Cienc Farm. 2008;44(4):577-599. DOI:ht- tps://doi.org/10.1590/S1516-93322008000400005.
Mojica MF, Bonomo RA, Fast W. B1-metallo-β-lactamases: where do we stand? Curr Drug Targets. 2016;17(9):1029- 1050. DOI:10.2174/1389450116666151001105622.
Jiménez Pearson MA, Galas M, Corso A, et al. Consenso latinoamericano para definir, categorizar y notificar patógenos multirresistentes, con resistencia extendida o panresistentes. Rev Panam Salud Publica. 2019;43:e65. DOI:10.26633/ RPSP.2019.65.
BRASIL. Boletim de Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde nº 16: Avaliação dos indicadores nacionais das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) e Resistência microbiana do ano de 2016. ANVISA-Segurança Do Paciente E Qual Em Serviços Saúde. 2016; 16: p.83.
Mojica MF, Rossi MA, Vila AJ, et al. The urgent need for me- tallo-β-lactamase inhibitors: an unattended global threat. Lancet Infect Dis. 2022; 22(1):e28-e34. DOI:10.1016/S1473-3099(20)30868-9.
BRASIL, Ministério da Saúde. NOTA TÉCNICA Nº 74/2022- CGLAB/DAEVS/SVS/MS. Informações sobre o aumento na frequência de isolamento de bactérias multirresistentes, em especial dos bacilos Gram-negativos (BGN) produtores da metalo-beta-lactamase “New Delhi” (NDM), e coprodutores de enzimas relacionadas à resistência aos carbapenêmicos (KPC e NDM); 2022.Availible in: https://brcast.org.br/wp-con- tent/uploads/2022/09/SEI_MS-0028220258-Nota-Tecnica-NDM-e-coproducao-carbapenemase.pdf. Accessed on: 30th january 2023.
Carvalho-Assef APD, Pereira PS, Albano RM et al. Isolation of NDM-producing Providencia rettgeri in Brazil. J Antimi- crob Chemother. 2013;68(12):2956-2957. DOI:10.1093/jac/ dkt298.
Yu H, González Molina MK, Carmona Cartaya Y et al. Mul- ticenter Study of Carbapenemase-Producing Enterobac- terales in Havana, Cuba, 2016-2021. Antibiotics (Basel). 2022;11(4):514. DOI:10.3390/antibiotics11040514.
Ghasemian A, Rizi KS, Vardanjani HR, et al. Prevalence of cli- nically isolated metallo-beta-lactamase-producing Pseudo- monas aeruginosa, coding genes, and possible risk factors in Iran. Iran J Pathol. 2018;13(1):1-9.
Goel V, Hogade SA, Karadesai SG. Prevalence of extended-spectrum beta-lactamases, AmpC beta-lactamase, and metallo-beta-lactamase producing Pseudomonas aeruginosa and Acinetobacter baumannii in an intensive care unit in a tertiary care hospital. Jundishapur J Microbiol. 2013;40(1):28-31.DOI: 10.5812/jjm.16436
Wang L, Zhou KH, Chen W, et al. Epidemiology and risk factors for nosocomial infection in the respiratory intensive care unit of a teaching hospital in China: A prospective surveillance during 2013 and 2015.BMC Infect Dis. 2019;19(1):145.DOI: 10.1186/s12879-019-3772-2.
Agondi RC, Rizzo LV, Kalil J, et al. Imunossenescência. Rev bras alergia imunopatol. 2012; 35(5):169-176.
Kasper DL, Hauser SL, Jameson JL, et al. Medicina interna deHarrison. 20. ed. Porto Alegre: AMGH, 2020.
Seo H, Kim HJ, Kim MJ, et al. Comparison of clinical outco- mes of patients infected with KPC-and NDM-producing Enterobacterales: a retrospective cohort study. Clin Microbiol Infect. 2021;27(8):1167.e1-1167.e8. DOI:10.1016/j. cmi.2020.09.043.
Garcia LM, César IC, Braga CA, et al. Perfil epidemiológico das infecções hospitalares por bactérias multidrogarresis- tentes em um hospital do norte de Minas Gerais. Rev Epidemiol Control Infect. 2013;3(2):45-49. DOI: https://doi.org/10.17058/reci.v3i2.3235.
Voidazan S, Albu S, Toth R, et al. Healthcare Associated Infec- tions-A New Pathology in Medical Practice?. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(3):760. DOI:10.3390/ijerph17030760.
Cohen B, Choi YJ, Hyman S, et al. Gender differences in risk of bloodstream and surgical site infections. J Gen Intern Med. 2013;28(10):1318-1325. DOI:10.1007/s11606-013-2421-5.
Haukland EC, von Plessen C, Nieder C, et al. Adverse events in hospitalised cancer patients: a comparison to a general hos- pital population. Acta Oncol. 2017;56(9):1218-1223. DOI:10.1080/0284186X.2017.1309063.
Sanhudo ND. Liderança em enfermagem na prevenção e con- trole de infecções nos pacientes com câncer [Tese de Dou- torado]. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
Battaglia CC, Hale K. Hospital-Acquired Infections in Critically Ill Patients With Cancer. J Intensive Care Med. 2019;34(7):523- 536.DOI:10.1177/0885066618788019.
Pileggi C, Mascaro V, Bianco A, et al. Ventilator Bundle and Its Effects on Mortality Among ICU Patients: A Meta-Analy- sis. Crit Care Med. 2018;46(7):1167-1174. DOI:10.1097/CCM.0000000000003136.
Ramirez P, Bassi GL, Torres A. Measures to prevent nosocomial infections during mechanical ventilation. Curr Opin Crit Care. 2012;18(1):86–92. DOI:10.1097/MCC.0b013e32834ef-3ff.
Álvarez CAG, Castro ALL, Gonzalez MJE, et al. Mecanismos de resistencia en Pseudomonas aeruginosa: entendiendo a un peligroso enemigo.Rev Fac Med. 2005;53(1):27-34.
Dawadi P, Khadka C, Shyaula M, et al. Prevalence of me- tallo-β-lactamases as a correlate of multidrug resistance among clinical Pseudomonas aeruginosa isolates in Nepal. Sci Total Environ. 2021; 850 (1):157975. DOI:10.1016/j.scito- tenv.2022.157975.
Tan X, Kim HS, Baugh K, et al. Therapeutic Options for Metallo-β-Lactamase Producing Enterobacterales. Infect Drug Resist. 2021;14:125-142. DOI:10.2147/IDR. S246174.
Nang SC, Azad MAK, Velkov T, et al. Rescuing the Last-Line Polymyxins: Achievements and Challenges. Pharmacol Rev. 2021;73(2):679-728. DOI:10.1124/pharmrev.120.000020.
Santos DES. Simulações atomísticas da polimixina B em mem- brana externas de bactérias gram-negativas susceptíveis ou resistentes: primeiros estágios do mecanismo de ação [ Dissertação de Mestrado]. Programa de Pós Graduação em Química do Departamento de Química Fundamental da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2017.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Autores
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Os autores transferem, atribuem ou transmitem à RBFHSS: (1) o direito de conceder permissão para republicar ou reimprimir o material indicado, no todo ou em parte, sem taxa; (2) o direito de imprimir cópias republicadas para distribuição gratuita ou venda; e (3) o direito de republicar o material indicado em qualquer formato (eletrônico ou impresso). Além disso, o abaixo assinado afirma que o artigo descrito acima não foi publicado anteriormente, no todo ou em parte, não está sujeito a direitos autorais ou outros direitos, exceto pelo (s) autor (es), e não foi enviado para publicação em outros lugares, exceto como comunicado por escrito para RHFHSS neste documento.
Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação com o trabalho licenciado simultaneamente sob uma Licença de atribuição Creative Commons Attribution (CC-BY-NC-ND) que permite que outros compartilhem o trabalho com um reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
Politica de Auto-arquivamento
Autores tem permissão e são encorajados a submeter o documento final em pdf dos artigos a páginas pessoais ou portais institucionais, após sua publicação neste periódico (sempre oferecendo a referência bibliográfica do item).