Alterações laboratoriais dos medicamentos atuantes no sistema nervoso de uma Relação Municipal de Medicamentos Essenciais do nordeste brasileiro

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DOI:

https://doi.org/10.30968/rbfhss.2024.151.1020

Resumo

Objetivo: Realizar um levantamento sobre as interferências nos exames laboratoriais dos medicamentos incluídos na classificação Anatomical Therapeutic Chemical (ATC) N (medicamentos que atuam no sistema nervoso), presentes na Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) do município de Fortaleza, no estado do Ceará. Métodos: Trata-se de uma pesquisa exploratória. Utilizou-se como descritores de busca os nomes dos medicamentos presentes na 3º edição REMUME 2022, nas bases de dados Bulário Eletrônico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e UpToDate®. Em seguida, classificaram-se as interferências laboratoriais identificadas em in vitro e in vivo. Além disso, agruparam-se as alterações in vivo de acordo com a frequência das reações adversas, baseando-se no preconizado pelo Medical Dictionary for Regulatory Activities. Os dados foram compilados e analisados usando o software Microsoft Office Excel® 2013. Resultados: Dos 50 medicamentos analisados, observou-se que 16% não apresentaram nenhuma interferência in vitro e/ou in vivo. As classes terapêuticas que apresentaram mais alterações laboratoriais in vitro foram os anticonvulsivantes (12%, n=6), seguido dos antidepressivos, com 6% (n=3). No que tange às alterações in vivo, os anticonvulsivantes também foram a classe farmacológica com mais alterações (22%, n=11), seguidos também dos antidepressivos (18%, n=9). Biperideno, clobazam, hidroxizina, nicotina, pramipexol, piridostigmina, rivastigmina e rasagilina não apresentaram nenhuma alteração in vitro ou in vivo, de acordo com a literatura consultada. As principais alterações orgânicas envolviam sistema hematológico, com destaque para reações que apresentavam frequência desconhecida. Conclusão: Constatamos que medicamentos da REMUME do município de Fortaleza-CE, utilizados em situações clínicas que envolvem o sistema nervoso central, podem ocasionar alterações laboratoriais. Resultados laboratoriais alterados provocados pelos medicamentos em uso e não pela doença em si, podem vir a comprometer a terapêutica do paciente, gerando condutas médicas errôneas e consequentemente iatrogenias, culminando em mais tempo de hospitalização e gastos para os serviços de saúde.

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Arquivos adicionais

Publicado

2024-03-23

Como Citar

1.
GOMES LS, PEREIRA BR, DIAS LM, MESQUITA JL, PASSOS BV, SOUSA MH. Alterações laboratoriais dos medicamentos atuantes no sistema nervoso de uma Relação Municipal de Medicamentos Essenciais do nordeste brasileiro. Rev Bras Farm Hosp Serv Saude [Internet]. 23º de março de 2024 [citado 22º de dezembro de 2024];15(1):1020. Disponível em: https://rbfhss.org.br/sbrafh/article/view/1020

Edição

Seção

ARTIGOS ORIGINAIS