Elementos sobre o manejo de hipertensão e diabetes em serviços públicos de saúde
Abstract
Todo o homem, tão logo tome consciência de estar vivo e apto a fazer escolhas, passa a fazêlas e ao longo da vida que se segue são aprimoradas as habilidades e tomadas de decisões. Assim, é na
senescência que os melhores frutos desta jornada deveriam ser colhidos. Os estados de perturbação da
saúde fazem parte dos aprendizados e experiências. Seriam então as morbidades de caráter crônico as que
oportunizariam melhor aprendizado ao homem e a humanidade.
Esta lógica poderia induzir à expectativa de que a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e
o diabetes melitus (DM) fossem doenças controladas. Pois, considerando o fato de serem crônicas
e não transmissíveis com destacada prevalência no mundo, poderiam ser mais bem compreendidas,
prevenidas e tratadas. No entanto, a realidade exposta por dados de estudos científicos não confirmam
esta lógica simplista. O que existe é um controle muito baixo destas doenças e com resultados ainda menos
satisfatórios em países de terceiro mundo1-3.
Por algum tempo defendeu-se a hipótese de que este descontrole estava relacionado à falta
de acesso aos medicamentos essenciais. A melhora da gestão da assistência farmacêutica e o advento do
programa Aqui tem Farmácia Popular — trazendo consigo a gratuidade aos medicamentos para o manejo
destes problemas — são exemplos de estratégias para ampliação do acesso.
No entanto, o acesso, por si só, não garante o controle destes problemas de saúde. A adesão é
fundamental, e não apenas a medicamentosa, mas também a adoção de mudanças de estilo de vida sejam
estas relacionadas à alimentação ou à prática de exercícios físicos.
Em estudo realizado no sul do Brasil, observou-se um problema que merece ser discutido em
profundidade: a falta de informação documentada nos serviços de saúde sobre estes pacientes. Esta posição
é decorrente do fato de que, mesmo os usuários estando cadastrados em listas de pacientes diabéticos
e hipertensos pelos municípios investigados no Sul do Brasil, apenas 67,4% tiveram seus prontuários
localizados e ainda apenas 43,1% possuíam informações, sobre o controle da doença, registrados nos
últimos 12 meses4
.
A falta de registros nos prontuários pode ser resultado da criação de documentos paralelos, já
que é necessário o envio mensal, pela gestão da Atenção Básica, dos dados acerca de suas ações ao sistema
nacional. Por vezes, a critério do profissional de saúde, esta informação também deixa de ser preenchida,
em decorrência da manutenção de posturas individuais ou por características dos serviços de saúde5
.
Outra causa possível por estar vinculada a problemas no arquivamento do prontuário, resultando na não
localização6
. E, não se deve deixar de aventar a possibilidade de escassez de recursos para a realização de
exames complementares, o que não justifica a falta de registros de parâmetros como a pressão arterial visto
em menos da metade dos prontuários existentes4
.
Também é importante destacar que, de acordo com os parâmetros definidos no estudo de
Trauthman4
, apenas 34,4% dos indivíduos atingiram as metas terapêuticas determinadas. Isto demonstra
o pequeno controle da HAS e DM, ainda que a maioria (84,4%) tenha considerado o tratamento efetivo,
denotando que a percepção dos pacientes sobre a efetividade da terapia segue um caminho diferente.
Esta percepção de controle pode estar associada a dois fatores. O primeiro deles relaciona-se ao fato de
as doenças serem silenciosas. Portanto, as alterações da glicose e da pressão passam despercebidas pelo
paciente. Outro motivo pode ser o entendimento do controle, pois valores superiores aos estabelecidos
em diretrizes e consensos7,8 podem estar sendo adotados pelos entrevistados como meta terapêutica4
.
A prevalência do controle clínico destas doenças está distante da condição ideal, sinalizando
a necessidade de conduzir os pacientes ao uso racional dos medicamentos e a adoção de medidas não
farmacológicas. Sendo cabível, a possibilidade de redefinições nos serviços, com especial atenção aos
registros de dados dos pacientes nos prontuários e a intensificação das atividades que influenciam de
modo positivo ao autocuidado e a adesão aos tratamentos.
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